segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ainda sobre ser "Plural como o Universo"


Malouf neste texto (http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n34/n34a05.pdf)
levanta duas questões bastante pertinentes:

Por um lado o duplo papel do imigrante, enquanto emigrante e emigrado.

Ou seja, o indivíduo que se desloca em busca de melhores condições de vida, tem dois papéis distintos. Por um lado, pertence a um conjunto identitário associado a modos de vida e traços característicos da sociedade onde nasceu, pelo que, ao abandoná-la, procura garantir que essa sua identidade não seja traída. Por outro lado, irá pertencer a novos padrões de conduta que deve adoptar, no sentido de melhor se integrar, através das influências externas que recebe no país de acolhimento. Deve tentar moldar-se, adaptar-se fundindo-as, de modo a criar uma identidade única mas com traços característicos das duas… Fundindo-se, estas duas identidades constroem harmoniosamente uma outra, nova, tocando a mesma melodia mas em diferentes tonalidades. É neste ponto, que reforço a ideia apontada no post da colega Isabel.

Este processo deveria ser bilateral, não basta que o migrante se identifique com a sociedade de acolhimento, é necessário que o seu país de origem não o esqueça, o aceite e continue a reconhecer e reconhecer-se nele”.(Maalouf 2009)

Por outro lado levanta a questão da estratificação social deste individuo e o modo como a sua condição de imigrado o insere num grupo minoritário, independentemente da sua condição social ou profissão que exercia no seu país de origem.

Quem não ouviu falar ou conhece, um indivíduo diplomado em medicina ( por exemplo) no país de origem e que, ao chegar ao de acolhimento, passa a exercer funções profissionais mais precárias (trabalhos agrícolas ou de construção civil); esta pessoa é ou não é “duas pessoas diferentes”? No entanto, é por isso que deixa de ser quem é e de representar a sua identidade de origem?

Na pirâmide hierárquica da estratificação social das sociedades, a meu ver elitista, o imigrante está sempre classificado na base da pirâmide, juntamente com as classes sociais mais desprotegidas. Ainda que venha a exercer funções superiores intelectualmente, continuará sempre a ser imigrante.

Ele é contra a ideia francesa de integração por assimilação, onde o indivíduo, para ser totalmente aceite, tem de se transformar num cidadão francês adoptando posturas hábitos e crenças etc., e ainda contra outro tipo de integração contrária a esta (francesa) que passa por outra abordagem diferente – o imigrante é protegido pela lei, mas continua a ser um estrangeiro. Para Malalouf (2009), nenhum destes princípios deverá ser adoptado nas sociedades actuais, na medida em que não serve os propósitos e as necessidades globais transnacionais, o que na minha opinião fará todo o sentido, uma vez que estamos a caminhar em direcção ao individuo global, pertencente a sociedades globais, onde a perda de identidade não tem lugar…

Maalouf, Amin – Um mundo sem regras – Quando as nossas civilizações se esgotam, Difel (2009), 5ª edição

Helena Francisco

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