segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dinâmicas culturais e percursos de integração


O alto comissariado para a Imigração e minorias Étnicas (ACIME), faz referência, nas inúmeras actas do primeiro congresso, às questões que envolvem a imigração em Portugal, exaltando as boas praticas no nosso país segundo os dados revelados no MIPEX, que nos colocam no topo das melhores práticas. No entanto, Jorge Vala, levanta alguma polémica, quando afirma que: “Os comportamentos discriminatórios são tanto mais difíceis de identificar e de combater em Portugal, quanto mais se encontra difundida a ideia de que esses comportamentos e as atitudes que os sustentam não têm expressão entre nós”. (Jorge Vala).

Este assunto é bastante controverso e delicado, afinal, segundo Margarida Marques, a questão da descriminação denunciada por Jorge Vala, não parece ser assim tão acentuada e reveladora.

Para complementar esta ideia, o estudo feito por Machado(1992), revela a questão da etnicidade de uma forma bastante razoável, estabelecendo uma comparação muito curiosa; ele diz que em Portugal não se denota uma discriminação acentuada, comparativamente à França e à Inglaterra.

Em Portugal não há um contraste tão evidente e demarcado, porque o nosso próprio país, em termos de precariedade de habitação e de qualificação profissional, habilitações literárias etc. não está assim tão distante de uma forma geral, do modo de vida que esses grupos minoritários representam. Em estudos sobre a pobreza em Portugal poderemos perceber este raciocínio.

Defende haver em Portugal sete categorias referentes de minorias étnicas. A imigração é apenas mais um, desses sete grupos, que vive em condições de pobreza.

Os movimentos associados a minorias e as políticas de estado, pensam e reflectem cada vez mais sobre estas temáticas, afinal não somos nós os 2ºs do ranking dos países que têm as melhores praticas de integração? Pelos vistos não chega... Jorge Vala (ACIME; 2009), denuncia, na sua intervenção, alguns casos concretos de discriminação étnica pura e simples…

A acção política abrange novos conceitos, e um deles é o de estado providência, que defende os direitos protege e pensa nesta nova realidade.

Devidamente organizados, estes grupos têm um interlocutor que os defende, que expõe os seus direitos e reivindicações e ainda os negoceia.

Actualmente em Portugal, a problemática envolvente da diversidade está, cada vez mais, a fazer progressos em direcção à concretização de políticas cada vez menos exclusivistas.

No entanto, é inevitável a situação de tensão criada pela mobilidade e pela imobilidade das populações, e também neste sentido se torna necessária a reflexão e a tomada de decisões que ao fim e ao cabo nunca se sabe se serão as mais adequadas…

Simon Turner(2008) através de Studying the Tensions of Transnational Engagement: From the Nuclear Family ), mostra sob que formas essas tensões surgem e como são travadas nas comunidades da diáspora e de identidades transnacionais. Através das histórias relatadas nestes documentos, podemos perceber de forma concreta como estes conflitos são geridos.

Está a ser depositada uma enorme esperança nos indivíduos de 2ª geração para que estas tensões e estes conflitos, e os factores de discriminação ligados à imigração venham a ser cada vez menos acentuados.

Neste sentido Susanne Wessendorf (2005) considera que existem duas grandes áreas que envolvem toda esta questão; por um lado a incorporação de imigrantes esquecendo por vezes as ligações dos migrantes à terra natal. Por outro lado as investigações centram-se nas ligações transnacionais. O estudo da integração dos indivíduos de 2ª geração só começou a preocupar os investigadores a partir de 1990. Mas representa desde essa altura um importante meio de perceber e pensar sobre esta problemática. Tem sido demonstrado que ser imigrante pertencente a duas culturas distintas não é necessariamente um obstáculo à integração (Eriksen 2002:137). Os estudos têm relevado os aspectos dinâmicos de pertença e da bi-cultutalidade e criticam as abordagens baseadas em estereótipos negativos. (Alexander 1992, Alexander 2000, Bolzman, Fibbi, 2003a e Vial, Chamberlain, in Wessendorf, Susanne (2005), Centre on Migration, Policy and Society, Working Paper No. 15, University of Oxford, 2005).

Bibliografia

ACIME (org.) (2004) Actas do I Congresso Imigração em Portugal: diversidade, cidadania, integração,18/19 Dezembro 2003, Lisboa: ACIME. Disponível em:

http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/5957/41002_Recursos/RecursosBaseTema_2/ACIME_2004.pdf Apenas o Capítulo “Processos Identitários e gestão da Diversidade” pp.48-72.

MACHADO, Fernando Luís (1992) Etnicidade em Portugal. Contrastes e politização, Sociologia – Problemas e Práticas, 12: 123-136.

TURNER, Simon (2008) Studying the Tensions of Transnational Engagement: From the Nuclear Family, to the World-Wide Web

Disponível em: http://www.moodle.univab.pt/moodle/file.php/5957/41002_Recursos/Outros_Tema_2/Turner_2008.pdf online em Online Publication Date: 01 September 2008.

WESSENDORF, Susanne (2005), Centre on Migration, Policy and Society, Working Paper No. 15, University of Oxford, 2005

Disponível em :

http://www.moodle.univab.pt/moodle/file.php/5957/41002_Recursos/Outros_Tema_2/Wessendorf_2005.pdf

Helena Francisco

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